terça-feira, agosto 05, 2008

 

Perfect Storm above our heads (Day 14: 1 de Agosto, 6ª feira)

Acordados cedo para dois dias de aventura fomos levados até ao primeiro ponto de paragem do programa padrão (porque cerca de muitas agências em Chiang Mai vendiam o mesmo programa) em que íamos tomar banho numas cataratas. Só o recém-chegado Ricardo se aventurou em banhos debaixo da forte queda de água numa altura em que começou a chover e apetecia tudo menos uma exposição ao frio. Era apenas um sinal dos céus para o que estava para vir. Depois, numa nascente de água quente, tomei, aí sim, o meu banho de imersão (único com tal iniciativa) e preparámo-nos todos para arrancar para a caminhada de cerca de 4 horas, ao longo de não sei bem que distância. A companhia para a caminhada era genial: uma família holandesa de 4 elementos (pais e casal de filhos) acompanhada de avô, viúvo há menos de um ano. Depois de sabermos que o pai tinha trabalhado na Philips Traffic (razão pela qual já tinha estado em Portugal em reuniões com a Brisa, desmistificando perante a orgulhosa Rita o mito de que a Via-Verde foi invenção portuguesa) e agora tinha duas empresas: 1 de formação de liderança que dava formação à média gestão e outra de recursos humanos que promovia o encontro entre mulheres licenciadas, com filhos e disponíveis para trabalhar apenas em part-time e empresas com estrutura não suficientemente grande para justificar um recurso especializado a tempo inteiro (ele explica, que ao contrário do que se poderia imaginar, a sociedade holandesa é bastante machista e foi a falta de população activa a promover este movimento). Era o caso da sua mulher que era uma secretária freelancer. Como boa família holandesa que era falava abertamente sobre todos os temas na frente dos filhos pelo que as primeiras conversas tocavam essencialmente temas como a liberalização das drogas e do álcool… Este casal acabou por se revelar numa grande companhia, sem dúvida.
A caminhada começou tranquilamente, com chuva miudinha que manteve a primeira subida lamacenta durante as primeiras horas enquanto tentava manter os sapatos limpos no que acabou por se revelar ridículo. O passeio por entre o verde denso era apaixonante. A densidade florestal deixava adivinhar uma grande e diversa fauna de aves que no entanto estava (e) migrada. Ocasionalmente o cheiro a estrume fresco fazia-me questionar sobre que animal domesticado, ou não, estaria a percorrer aquelas inóspitas encostas em busca de comida. Elefantes e búfalos seriam a resposta percebida no dia seguinte. A culminar uma das várias e longas subidas a vista sobre a imensidão dos vales e montanhas no norte Tailandês. A nebulosidade das proximidades não deixava perceber o que o guia descrevia como uma paisagem até ao limite do horizonte, mas nem por isso deixou de apaixonar. No topo da montanha, e por isso sem tecto de árvores, surge a sugestão de voltar a vestir os impermeáveis que tinham sido descartados pelo calor que estavam a provocar na dura subida, em caminho estreito. Na altura apenas um aguaceiro mas em breve viria o elemento que iria determinar o resto do nosso dia e marcá-lo de forma determinante: com todas as forças das monções abate-se sobre nós a destruição dos céus. Uma chuva como nunca tinha visto. Mais do que vista, esta chuva foi sentida. Era irrelevante se estávamos com impermeável ou não. Todos nós escorríamos água. Todos éramos afinal, água. As preocupações do grupo quando faltavam mais de 2 horas de caminhada eram simples: quem tinha máquinas de vários milhares de € batalhava com as probabilidades, os restantes procuravam manter-se em pé e andando em frente num terreno pantanoso e sempre inclinado. O desafio era grande principalmente porque tínhamos dois elementos com menos de 13 anos e outro com mais de 60 no grupo. Desafio era o nome do jogo e a razão pela qual era tão absorvente aquele momento. Se estivesse chateado com alguma coisa (o que não me lembro) esse sentimento desapareceu com o Desafio… Passo por umas bifas que estão de sandálias e verdadeiramente struglling. Depois o patriarca australiano passa por mim, tipo escorrega de lama uma vez. Depois outra. Ofereço-me para lhe levar uma das malas, num espírito de solidariedade que entretanto emerge. Uma paragem numa aldeia local e a esperança de que finalmente havíamos chegado. A dor da verdade mas a vontade de continuar pouco tempo depois da chegada para alcançar o destino ainda com luz solar. À chegada a felicidade, a roupa seca tirada de dentro de sacos plásticos, os litros de cerveja que caíram no vazio e inebriaram a noite enquanto esperávamos pelo jantar que tardou a chegar, dando tempo a que a natureza humana fosse percorrida em vários sentidos na troca intercultural de ideias. O descanso debaixo da fúria dos deuses foi possível até que às 2 da manhã fui lembrado que não tinha ido à casa-de-banho durante todo o dia… Não foi uma decisão fácil a de acordar os 10 companheiros de desafio à procura de luz, mas a natureza assim o exigiu…

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