segunda-feira, fevereiro 28, 2005

 

Conitunaçao com Presente e Futuro da Viagem

Bem fomos então os 3 mosqueteiros para Buenos Aires. Bom espírito de grupo que se tinha criado no Rio de Janeiro. Começavam contudo a aparecer alguns sinais de cansaço. Não sei: podia ser que fosse do cansaço, como diria o Marco. Começávamos a dormir pouco comer menos bem e de mais, muita caipirinha sobre a praia. Daí resulta uma frase que fica para a posteridade. Disse-a o Rei Cesár: "Sô Sousa não bebe caipirinha, não? Esta estudando para padre?" Mais um momento do Rei de Ipanema.

Buenos Aires cidade ampla. Arquitectura de grande cidade Europeia, no estilo Latino-Americano. Avenidas amplas, prédios não demasiados altos, alguma arquitectura moderna. Foi a primeira impressão com que ficamos à chegada já de noite à imponente capital Argentina. Instalados e recebidos à grande pela Catarina do Puertooo num simpático apartamento, que fica no bom bairro da Recoleta começámos a explorar Buenos Aires. Encontrámos uma cidade e população algo deprimidas com a crise económica como não podia deixar de ser. Explicarei melhor os contornos da crise noutra oportunidade. Para além disso tinham morrido centenas de pessoas numa discoteca há pouco tempo, pelo que todas as restantes foram fechadas para fiscalização e o centro da alegria de uma cidade, que é a sua noite, tem estado gravemente afectada. A cidade vivia ainda um período de transição das férias de verão para o seu ritmo normal de trabalho. Estava portanto algo mortiça...
Fizemos grandes caminhadas por uma das cidades mais poluidas do mundo (com 13 milhões de habitantes, quando falamos da província, quase metade da pop do pais, mas talvez apenas 3 milhões se nos referirmos apenas ao centro, caro para viver, da cidade). A histórica casa rosada, o fabuloso e internacional teatro Colom (que vê passar nos seus palcos as grandes orquestras), o antigo e deprimido bairro La Boca, um ridículo jardim japonês da comunidade japonesa em BA, todo o centro de negócios, as lúdicas docas de Porto Madero que como em Lisboa são hoje um local de bares e restaurantes assim como de faculdades devolvendo lhe vida e ainda as nossas aulas de tango. Buenos Aires essa cidade onde não fizemos a mesma boa vida que no Rio, mas que nos deixou uma bela impressão. Regressarei a Buenos Aires pelo menos em duas ocasiões Mas agora apenas de passagem (como se veio a verificar).
Tivemos ainda numa cidade nos arredores de Buenos Aires, La Plata (cidade geometricamente desenhada) e ainda nas cidades do Uruguai, Montevideu (capital) e Colónia del Sacramiento. Finalmente estivemos presentes numa das mais belas criações divinas: as cataratas de Iguaçu! Estas cataratas e a subida ao Cristo Rei foram os momentos de maior beleza natural.
As cataratas impressionam muitíssimo pela massa de água que o rio a montante empurra em direcção à foz fazendo com que aquela falha ou desnível seja uma ponte de água. As toneladas de água que caem a cada segundo dão uma brutal percepção dos poderes da Natureza que vão muito para além daquilo que o homem procura ver na sua tentativa para a dominar. Adorei. Particularmente quando nos armámos em heróis e passando barreiras de protecção avançámos para o meio das cataratas numa zona mais segura e calma do percurso de agua onde outros se banhavam. Grande percepção que tivemos então... A ousadia por vezes recompensa. O programa incluiu uma ida em semi rígido até bem perto do ponto em que a água em queda massacrava a que já tinha caído. Ter levado com aquelas toneladas de água em cima teria sido a morte dos artistas. Felizmente os 500 cavalos do barco levaram-nos apenas até a uns metros desse mesmo ponto. Houve tempo ainda para um tour de camioneta estilo safari em que nos prometeram uma fauna selvagem e com felinos. Acabámos por ver apenas algumas espécies vegetais que desconhecíamos. Estávamos também já cansados. Esse seria o fim de mais um dia fabuloso. No dia seguinte, iríamos ao lado brasileiros destas cataratas que marcam a fronteira de 3 países. Este lado dava uma perspectiva mais distante e global das cataratas. Não menos impressionante, mas certamente menos emotivo. A caminhada deste lado faz-se em bem menos tempo...
Despedi-me então dos meus amigos com a certeza de ter aproveitado a sua companhia e de termos conseguido dar sinais do que realmente deve ser a amizade. Espero que as particularidades do feitio de cada pessoa continuem a não ser encaradas como obstáculos a amizades verdadeiras. Nesta viagem espero ter aprendido a lidar com outras pessoas com uma tolerância, sem qualquer tipo de pretensiosismo. Certamente tive oportunidade para aprendê-lo. Espero ter aprendido alguma coisa, num processo que jamais termina.
Depois dessa despedida faseada dirijo-me agora rumo a outros voos não menos impressionantes. Dentro de pouco tempo espero estar em Salta ( no norte da Argentina) a subir em poucas horas pelos Andes acima desde os 1000 metros até aos 4500. Depois desta alucinante subida, possível ouvi dizer, graças a uma folha de cocaína e assim que recuperar da ressaca e comprar as próximas doses dirijo-me (pese embora a imprevisibilidade do futuro) para Mendoza, cidade que se encontra no interior à latitude de BA e a 6h de Santiago do Chilhe.
A partir daí creio que não há grande noção do que poderei fazer. No entanto, tenho desde já o grande desejo de me apresentar para muita borga e festa e gajas de perder a cabeça (isto devo ser eu a exagerar claro!!), em Floripa o mais tardar dia 10 de Março

Tantos outros episódios, que carrego no meu intimo e tantos outros, que não tenho oportunidade de expor agora que esta viagem me tem proporcionado e assim continuará se Deus e/ou as circunstâncias assim o permitirem...

 

Sobre o passado (principalmente o mais recente), o Presente e o Futuro da Viagem

Caro único leitor Pedro Camara,

Desde dia 7 de Fevereiro que estou em viagem. Ser-me-á difícil reportar a todas as situações que se incluem no passado da viagem. No entanto, para quem já teve noticias minhas, quer directa, quer indirectamente, estes tópicos passados em revistam terão algum significado.
Quando sai de Lisboa rumo a Buenos Aires com a Ibéria, jamais me passaria pelo espírito que acabaria directamente no Rio de Janeiro e sem malas. Seguiu-se um pouco mais que uma semana alucinante no Rio em que, juntamente com os meus grandes amigos Sousa e Ricardo, passei pelo Sambódromo, a transbordar de encenações fabulosas, divertimento, poucas raparigas nuas neste ano particular, muita filosofia barata mas acima de tudo uma boa disposição (descobri as cedilhas o que não quer dizer que as utilize sempre por causa da sua posição no teclado. hehe) contagiante e eléctrica. O contraste da alegria na arena com a luz fraca e dispersa das favelas deixou antever uma saída que se revelou algo confusa. Brasil, terra de contrastes onde a felicidade está no ar e se manifesta na abertura com que as pessoas nos recebem em cada esquina, em cada bar, em cada rua e em cada momento das suas vidas (vim a descobrir mais tarde que esta é uma característica mais associada ao centro e norte do Brasil; como sempre o calor faz isto às pessoas).
Noites bem divertidas, com as três fases descritas pelo Sousa e muito mais. Uma nota para a situação desconfortável com que nos deparámos, à chegada quando no nosso bairro de Ipanema estava uma das maiores concentrações gays do mundo. Que repulsa que aquela situação tinha de causar...É incrível como o paneleiro tem tão pouca coisa para fazer que pode dar tanto do seu tempo ao ginásio, onde procura a beleza masculina onde ela não existe: no corpo! Paneleiros. Fod*-**. Como diria o Rei César: era metralhadora em todo esse veadão (panilas em brasileiro). A caça ao veado: desporto que devia ter mais aderentes. Depois desta nota de chauvinismo, devo acrescentar que as brasileiras em Ipanema são bastante atraentes. Fogosa, a brasileira. Simpática. Pouco profunda e dai ser por vezes pouco interessante. Por vezes a simplicidade pode ser uma qualidade. Talvez discuta este ponto numa próxima ocasião.
Muitos conhecimentos travámos com: me dá seu celular... Inclusivamente encontrámos uma Sueca que estava em casa da Catarina em Copacabana (nossa anfitriã em Buenos Aires) e que vai estudar para Floripa. Coincidência brutal se pensarmos que estamos numas das cidades mais populosas do mundo. No fundo, o que acontece é que em qualquer lugar do mundo as pessoas acabam por se organizar por grupos relativamente pequenos e frequentar os mesmos sítios. Não obstante a coincidência incrível é claro. (Também está bom de ver que mais tarde nas 3 semanas que estive em Floripa não encontrei a Sueca, que vim a saber mais tarde era nossa vizinha. A vida tem destas coisas... Uma pena!). Tanto para dizer sobre os 10 dias no Rio, mas não às 13:42, numa paragem de autocarros em Resistência (pequena cidade nas pampas argentinas), antes de almoçar e com um cansaço, de quem não teve cama durante a noite no autocarro e sabe que a não a vai ter nas 12 horas seguintes à partida do autocarro para Salta prevista para as 18.30. Acrescento apenas então que poucas coisas podem ser tão cheias de estética e significado como subir um morro pelo meio de uma floresta tropical que coabita com uma das maiores concentrações humanas e chegar ao ponto mais alto onde se procurou colocar Jesus Cristo mais perto da sua morada eterna, sendo que essa morada é apenas um simbolismo para a sua verdadeira morada que é dentro de cada um de nós (não pretendo catequizar. É apenas uma imagem poética). Grande vista que se alcança lá de cima. Adoro aquele spot. Adorei ver de lá o por do sol, embora pouco claro, dada a densidade de nuvens tropicais. Irei acrescentar mais episódios sobre o Brasil no futuro próximo. Não só sobre aquilo que vivemos, mas também sobre aquilo que vimos, assim como conselhos para quem tiver a pensar lá ir. Continuo de seguida com uma breve referência ao presente na Argentina e aos meus planos para as próximas semanas.

domingo, fevereiro 27, 2005

 

A viagem comeca

Numa paragem de autocarros, algures na vasta planície Argentina, começo a escrever. Encontro apenas algumas razoes para o estar a fazer. No início desta viagem de 2 meses à América do Sul comprei um pequeno caderno no qual comecei a depositar alguns dos momentos que estava a viver assim como alguns pensamentos. No entanto, este método de contrariar o esquecimento a que estão consignados os momentos não registados nem em fotografia nem por escrito, acabou por não se revelar suficiente na medida em que nem sempre estava com o caderno a mão e escrever a mão hoje em dia faz pouco sentido e revela-se uma tarefa mais cansativa e menos precisa que escrever no computador. Por outro lado, um computador pode estar ao virara da esquina na parte mais recôndita do mundo como tenho podido verificar... E acima de tudo existe um estranho entusiasmo por sabermos que pelo menos existe uma probabilidade maior que zero a de alguém vir a ler aquilo que estamos a escrever. A orientação e sentido da escrita acabarão por ser diferentes daquilo que escrevo no caderno, mas escrever num Blog, por oposição ao meu caderno revela-se mais estimulante, como aliás tem revelado o Sousa pelo seu enorme interesse em escrever para terceiros. Aliás, do Bolg do meu companheiro de viagem Sousa, (A lei da espada) que me deu a ideia de iniciar este Blog sendo assim o seu padrinho, deriva o meu novo heterónimo: A lança.
Dito o motivo pelo qual começo a escrever este Blog está aberto a todas a crónicas que pretendo começar a escrever sobre esta viagem que estou a realizar. Falta-me finalmente explicar o título do Blog. A viagem eterna, ou em espanhol La viaje eterna, é uma alusão talvez demasiado poética ao processo continuo que é a Historia. Uma alusão ao fio condutor que nos leva de momento histórico em momento histórico sendo que cada pequeno acontecimento na vida de cada um têm relevância aos olhos da eternidade, tal como imagino que Deus a tenha pensado. Pretendo ainda dar um sentido de continuidade, para além do tempo da viagem, ao motivo concreto que me iniciou neste Blog. Até porque para mim viajar é um estado de espírito que embora mais intenso longe da sua terra, não se esgota nesse momento, num mundo global onde a viagem é cada vez mais uma imposição Histórica, que começou por levar o homem nómada ao sedentarismo, para o tornar novamente nómada.

Pedro Noronha da Camara, a partir de agora a Enigática Lança

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