quarta-feira, julho 30, 2008

 

Uma aventura ou um plano meticuloso?

Tem sido uma constante, as minhas viagens serem caracterizadas por terceiros como aventuras. O motivo talvez seja um conjunto de características comuns às mesmas, como a ausência de marcação de hotel para passar todas as noites, não ter transferências entre os diferentes pontos a visitar previamente estabelecidas e ainda a parca quantidade de objectos pessoais (roupa, medicamentos, cremes, objectos de casa de banho) ou bens típicos de primeira necessidade, que levo comigo. Começando por este último ponto é verdade que cada viagem que passa, o esforço para reduzir o peso acartado, é superior. No entanto por maior que seja o esforço acabamos sempre por esbarrar no essencial. “Ah se calhar vou precisar desta fixa com adaptar para 40 tipos de tomadas diferentes…”; “ Xi, já me esquecia de um creme para os pés, fundamental após longas caminhadas (este elemento é uma imagem de ficção sugerida pela visão da minha casa de banho com o famoso Fuss Fich esse grande desodorizante e refrescante de pés que na verdade nunca viajou comigo)”; “Onde é que está aquele livro que queria mesmo acabar. Esta viagem é a oportunidade ideal”; “Hum, acho que vou ainda levar o meu computador. Já não sei escrever à mão e assim garanto que fica tudo num formato editável e publicável (comodismo ou talvez não uma vez que implica andar com mais, e agora digo orgulhoso pela minha nova compra, 2 kgs do meu portátil de 12’’). Depois temos a roupa que é escolhida de acordo com uma fórmula simples: dias de viagem (DV)/ (factor de higiene1) x (boxer+T-shirt ou camisa+par de meias) + DV/(factor de higiene2) x calças + par de sapatos x cenários de viagem + diversos (saco cama, toalha, material de casa de banho e pouco mais). Depois de gerado um valor podemos fazer alguns ajustamentos que ultimamente têm feito a minha mala tender para zero. Por exemplo, nesta última viagem para os 25 dias de viagem o meu factor DV foi de apenas 15 (claro que também existe um limite no meu armário de cerca de 30, mas já revela boa vontade para com as minhas costas…). Estes ajustamentos estão profundamente relacionados com uma estimativa que fazemos das distâncias a percorrer e do tipo de mala que levamos. A ideia é estar 100% equipados com tudo o que nos vai fazer falta no mais remoto dos cenários… Sobre mala, estamos falados. Depois comentava os locais onde dormir. Aqui penso que olhar para um mapa, ler meia dúzia de comentários e atirar um cartão de crédito a um site desconhecido é extraordinariamente aventuroso. Pelo contrário, levar connosco um guia com 3 ou 4 opções possíveis e deixar que as circunstâncias do momento decidam a melhor opção (salvaguardando que no local não existe uma enchente), regateando eventualmente o preço pré-estabelecido é muito mais meticuloso. Este é o rumo que tenho seguido recentemente. Quanto aos locais a visitar não há muito para argumentar: quando vou a um destino tipicamente dá-se o caso de ter muito mais coisas a ver do que o tempo que tenho me permitiria. Cruzando uma hierarquia de prioridades com um percurso razoável chego a um plano altamente detalhado, com eventuais bifurcações de escolha aqui e ali, mas que no essencial é muito meticuloso. Quanto às deslocações entre os diferentes pontos do mapa a visitar confesso que o mais meticuloso e irritante é mesmo ter os famosos encontros à entrada do hotel para ir para o aeroporto num mini-bus que nos levam em horas de aborrecimento. Por outro lado não seria nada meticuloso ter ligações marcadas sem saber as datas exactas em que vou estar em cada sítio (muito menos a hora), embora tenha um elevado nível de previsibilidade. Assim esta parte fica parcialmente em aberto…
Um outro factor de planificação é a planificação já feita por terceiros. O que tenho sentido nesta viagem é que tudo o que tenho feito já foi feito por outros e normalmente, muitos outros. Por este motivo as coisas estão de tal maneira organizadas e previstas que mesmo que eu não planeie nada, letting my self go with the flow e tendo em conta aquilo que me apetece fazer em cada momento, conduz-me a uma viagem muito parecida com aquela que o plano mais meticuloso me poderia permitir. A melhor parte é que a terei alcançado sem tanto esforço pessoal…
Que lembre em termos de planeamento a única parte onde efectivamente perdi algum tempo (para além de fazer a mala) foi o ter-me colocado à disposição para a inoculação de uma entidade agressora de livre e espontânea vontade. Bolas a única parte que planeei foi estúpida…
Parece-me portanto que a questão inicial é difícil de responder…
Aventura ou não que seja mais uma viagem reveladora da riqueza da natureza (na sua componente geofísica, mas acima de tudo humana).

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