A Viagem Eterna

Se alterares o teu parâmetro de realidade e a classificares em função da memória, nao estás a adulterar a realidade ao passar as memorias para o papel. Estarás porventura a transpôr para texto memórias diferentes daquelas que tinhas no momento exacto em que viveste os acontecimentos a que essas memorias reportam. Se realidade for apenas o que se vive a cada microsegundo, então a realidade não faz sentido, pois o que o ser humano busca é, essencialmente, conforto na memória. Que interesse tem a realidade, se um nanosegundo depois já não passa de memória? O que o ser humano chama de realidade não passam de lotes de microsegundos do qual ele se apercebe sensitivamente. Por outras palavras, apreendemos sensações a cada segundo, mas a realidade produz-se a cada microsegundo. Como tal, o que chamas de realidade é um exercício de memória que a mente exerce a cada segundo. Conclui-se que agora consegues transpôr muito melhor a realidade do que no momento em que pensavas estar a vivê-la, porque nesse momento a realidade era ainda um cru input na tua mente, e agora é um conjunto sucessivo de momentos passivos de serem analisados.